Publicado em 17/07/2008
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Essa crônica surgiu de mais uma conversa pelas madrugadas. Querer ter uma boa imagem de si próprio refletida nos outros é algo natural e inerente ao ser humano. Muitas vezes pode ser pensada como uma sina ruim, ou ainda erroneamente confundida com uma pretensa necessidade de reconhecimento com fim em si mesmo. Já pensei que tal comportamento faz de mim uma pessoa presa às minhas necessidades de fazer bem a quem me rodeia. Algo que deveria ser bom, não?
Às vezes, contudo, me pego pensando que aquele que se preocupa com o coletivo vai ter sempre o carinho de todos, mas é o competitivo individualista que acaba parecendo mais bem sucedido. E qual o desfecho de todas essas histórias, no final das contas?
“Você tem uma necessidade de agradar os outros, mas não vejo você agradando ao Daniel.”
Tal afirmação poderia soar irrefutável em um primeiro momento, pensando apenas nesse raciocínio linear de que quem pensa muito nos outros acaba esquecendo muitas vezes de si próprio. Mas existem certas nuances e particularidades que tornam o assunto muito mais complexo, a ponto de nem saber se palavras escritas conseguem replicar tais sentimentos.
Quem sabe muitas vezes a satisfação está em ver um sorriso de alegria de outra pessoa? Ou em um agradecimento sincero de alguém quando vê que fazemos algo que outros não fariam corriqueiramente? “Não, isso seria demais. O ‘herói’ que está sempre salvando os outros mas no fundo não consegue ser feliz.”
Quem teve oportunidade de ler histórias em quadrinhos com um pouco mais de interesse conhece bem os estereótipos que formam o herói e o vilão; eles nada mais são do que o reflexo de muitos conceitos que permeiam nossa sociedade. O diálogo acima me remeteu a um belo resumo da vida dos principais heróis das histórias em quadrinhos: O jovem estudante que salva o mundo escalando paredes mas não é reconhecido por isso, e o pior, sequer consegue pagar as contas ou ter o amor da vizinha de infância; o Super-Homem que mesmo melhor que todos humanos parece sentir-se sozinho no meio da humanidade; Batman, o milionário frustrado com a morte dos pais que descontando sua raiva contra o mundo acaba tornando-o melhor.
“Você não é um super-herói, Daniel. Nem queira ser.”
Breve pausa. Essa frase não soa tão inesperada como instigante? Ver alguém te colocar contra a parede, te cobrar essa posição? Certamente faria qualquer um, pelo menos, pensar nas próprias escolhas de vida – e comigo não foi diferente. O que será que eu tento ser nesse mundo? Ou, o que eu quero ser na realidade? Questões. Por que buscar o melhor para os outros e para si são necessariamente conceitos excludentes? “Ah... o herói sempre se engana! Ele não consegue ver a realidade das coisas. É por isso que ele é o herói e não o vilão – por que o vilão é o mais esperto? Porque ele é mais crítico, mais sagaz, mais desesperançoso com o que humanidade pode lhe oferecer.” E nessa descrença do vilão pelas pessoas, ele se tornaria mais livre que o próprio herói, menos preso a certas conveniências e responsabilidades morais.
Evidentemente, o que eu quis fazer falando dos heróis dos quadrinhos foi uma metáfora. O que quis (e quero, a essa altura) dizer é quem nem todos fazem a escolha que é mais fácil e cômoda para si. Mas nem por isso deixa de ser a melhor escolha. Ou, tentando relativizar ainda mais: nem sempre as melhores escolhas unicamente para nós mesmos são as escolhas que devemos tomar em um determinado momento da vida. E esse é justamente o dilema do herói. Saber que o que é certo nem sempre é o que parecerá lhe render, aos olhos de alguns, maiores benefícios ou mesmo reconhecimento daqueles que foram ajudados por ele. Mas o que ele busca justamente não é isso, a despeito da falta de entendimento alheio sobre o tema, mas sim a certeza de estar fazendo o que é certo para sua consciência. Esse é o sentimento que, no meio de todas as incertezas e tentações individualistas, fazem dele o que ele é, e não outra coisa. O herói. Uma segunda pessoa conversou, tempos depois, comigo justamente a respeito desses mesmos conceitos. A visão dela é um pouco diferente da minha primeira interlocutora.
“Eu não concordo que tu te percas nessa busca pelo agradar aos outros. Simplesmente porque pessoas como tu não fazem isso buscando aceitação ou reconhecimento (por vaidade pura e simples)... fazem simplesmente porque podem fazer.”
Como qualquer outra pessoa poderia, aliás, mas raramente faz. Finalmente voltando ainda às referências citadas, pensei durante horas sobre essa dicotomia (?) entre as personalidades do herói e do vilão: o vilão veria o mundo como ele é de verdade, então? Inebriado pelos próprios desejos e descrente com o que os outros podem lhe oferecer? Nesse caso, não é justamente MUITO BOM querer tornar-se o herói? Pode ser mais sofrido, mais difícil de aceitar, mas, embora não pareça, é extremamente mais compensador. O mundo pode não precisar de homens perfeitos, mas pelo menos intenções perfeitas devem sempre existir.
Sim, eu quero ser o “herói”, nesse caso.
Mas será que a humanidade toda não está realmente torcendo mais para os vilões hoje em dia???
Às vezes, contudo, me pego pensando que aquele que se preocupa com o coletivo vai ter sempre o carinho de todos, mas é o competitivo individualista que acaba parecendo mais bem sucedido. E qual o desfecho de todas essas histórias, no final das contas?
“Você tem uma necessidade de agradar os outros, mas não vejo você agradando ao Daniel.”
Tal afirmação poderia soar irrefutável em um primeiro momento, pensando apenas nesse raciocínio linear de que quem pensa muito nos outros acaba esquecendo muitas vezes de si próprio. Mas existem certas nuances e particularidades que tornam o assunto muito mais complexo, a ponto de nem saber se palavras escritas conseguem replicar tais sentimentos.
Quem sabe muitas vezes a satisfação está em ver um sorriso de alegria de outra pessoa? Ou em um agradecimento sincero de alguém quando vê que fazemos algo que outros não fariam corriqueiramente? “Não, isso seria demais. O ‘herói’ que está sempre salvando os outros mas no fundo não consegue ser feliz.”
Quem teve oportunidade de ler histórias em quadrinhos com um pouco mais de interesse conhece bem os estereótipos que formam o herói e o vilão; eles nada mais são do que o reflexo de muitos conceitos que permeiam nossa sociedade. O diálogo acima me remeteu a um belo resumo da vida dos principais heróis das histórias em quadrinhos: O jovem estudante que salva o mundo escalando paredes mas não é reconhecido por isso, e o pior, sequer consegue pagar as contas ou ter o amor da vizinha de infância; o Super-Homem que mesmo melhor que todos humanos parece sentir-se sozinho no meio da humanidade; Batman, o milionário frustrado com a morte dos pais que descontando sua raiva contra o mundo acaba tornando-o melhor.
“Você não é um super-herói, Daniel. Nem queira ser.”
Breve pausa. Essa frase não soa tão inesperada como instigante? Ver alguém te colocar contra a parede, te cobrar essa posição? Certamente faria qualquer um, pelo menos, pensar nas próprias escolhas de vida – e comigo não foi diferente. O que será que eu tento ser nesse mundo? Ou, o que eu quero ser na realidade? Questões. Por que buscar o melhor para os outros e para si são necessariamente conceitos excludentes? “Ah... o herói sempre se engana! Ele não consegue ver a realidade das coisas. É por isso que ele é o herói e não o vilão – por que o vilão é o mais esperto? Porque ele é mais crítico, mais sagaz, mais desesperançoso com o que humanidade pode lhe oferecer.” E nessa descrença do vilão pelas pessoas, ele se tornaria mais livre que o próprio herói, menos preso a certas conveniências e responsabilidades morais.
Evidentemente, o que eu quis fazer falando dos heróis dos quadrinhos foi uma metáfora. O que quis (e quero, a essa altura) dizer é quem nem todos fazem a escolha que é mais fácil e cômoda para si. Mas nem por isso deixa de ser a melhor escolha. Ou, tentando relativizar ainda mais: nem sempre as melhores escolhas unicamente para nós mesmos são as escolhas que devemos tomar em um determinado momento da vida. E esse é justamente o dilema do herói. Saber que o que é certo nem sempre é o que parecerá lhe render, aos olhos de alguns, maiores benefícios ou mesmo reconhecimento daqueles que foram ajudados por ele. Mas o que ele busca justamente não é isso, a despeito da falta de entendimento alheio sobre o tema, mas sim a certeza de estar fazendo o que é certo para sua consciência. Esse é o sentimento que, no meio de todas as incertezas e tentações individualistas, fazem dele o que ele é, e não outra coisa. O herói. Uma segunda pessoa conversou, tempos depois, comigo justamente a respeito desses mesmos conceitos. A visão dela é um pouco diferente da minha primeira interlocutora.
“Eu não concordo que tu te percas nessa busca pelo agradar aos outros. Simplesmente porque pessoas como tu não fazem isso buscando aceitação ou reconhecimento (por vaidade pura e simples)... fazem simplesmente porque podem fazer.”
Como qualquer outra pessoa poderia, aliás, mas raramente faz. Finalmente voltando ainda às referências citadas, pensei durante horas sobre essa dicotomia (?) entre as personalidades do herói e do vilão: o vilão veria o mundo como ele é de verdade, então? Inebriado pelos próprios desejos e descrente com o que os outros podem lhe oferecer? Nesse caso, não é justamente MUITO BOM querer tornar-se o herói? Pode ser mais sofrido, mais difícil de aceitar, mas, embora não pareça, é extremamente mais compensador. O mundo pode não precisar de homens perfeitos, mas pelo menos intenções perfeitas devem sempre existir.
Sim, eu quero ser o “herói”, nesse caso.
Mas será que a humanidade toda não está realmente torcendo mais para os vilões hoje em dia???
Um comentário:
Oi Daniel.
Passei por aqui para dar uma olhada no teu blog. Muito bom este teu ultimo texto, espero que tu tenha mais reflexoes como esta nos proximos. Vou arrumar um tempinho para fazer uma visitinha. Abraçao!
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