Existem certos sentimentos que convivem muito próximos, perigosamente separados uma linha muito tênue.
Orgulho e preconceito são dois conceitos que, por exemplo, volta e meia se confundem. Orgulho, no sentido positivo da palavra, é bom, nos engrandece, nos traz satisfação conosco mesmos ou com algo que fazemos, conquistamos ou admiramos. Porém, é muito fácil, e por isso tão perigoso, acharmos que nosso orgulho sirva como um instrumento de diferenciação social. E aí o orgulho toma a conotação negativa que tem, e geralmente vira preconceito: puro, simples e condenável, sob qualquer espécie.
Considero-me um bom observador, no sentido de que gosto muito de “ler” situações e pessoas, em circunstâncias específicas. Existem certas situações que são sintomáticas de orgulho e preconceito. Pequenas, grandes, veladas ou escachadas. Por exemplo, aqui no sul do Brasil onde vivo existe um grande orgulho – do qual compartilho - da nossa história, das nossas iniciativas e posições como povo. Algo que desperta admiração não só entre nós, mas também de muitos que nos percebem orgulhosos de nossas raízes. Ocorre que muitos não têm orgulho do povo que somos, mas do povo que seríamos comparativamente a outros. Como se houvesse um manual do “melhor” e do “pior” de como definir-se como ser humano, em se tratando de relações sociais, laborais ou comportamentais. Como se essa condição de orgulho não enaltecesse nossas qualidades, mas nos diferenciasse, no sentido sectário do “diferente”. E daí, volta e meia, advém vários conceitos prontos que na boca das pessoas soam como verdades incontestáveis e que na verdade são preconceitos sem nenhuma validade prática.
Outra situação bem comum se dá em determinadas situações sociais. Várias vezes presenciei cenas onde uma pretensa “classe”, “bom gosto” e “requinte” me são, veladamente, sugeridas como uma forma de diferenciação, auto-promoção, ou, se preferirem, de orgulho - no mau sentido da expressão. Se essas pessoas soubessem que nesses momentos sempre contenho um sorriso irônico de absoluta indiferença àquilo, talvez não me tivessem em tão alta conta. Educação e classe para mim não respeitam segmentação financeira, mas são claramente diferenciadas pela postura e caráter das pessoas. Talvez por isso quem me conheça bem saiba (ou estranhe) que eu dou a mesma atenção social para um funcionário empoeirado ou uma dama da sociedade X ou Y jantando comigo.
Resumindo, orgulho só é bom quando não acusa nossas próprias vaidades. Caso contrário, é ostentação, soberba...ou preconceito.