7 de janeiro de 2010

O que ficou da década - parte 2

Seguindo a proposta do meu amigo e blogger Ricardo, estou aproveitando esse período de “férias” (para quem?) para fazer uma análise pessoal de fatos relevantes dessa última década. No seu blog Artigolândia ele começa falando de alguns fatos políticos. Sei que uma parte dos leitores daqui não é muito afeita a estas discussões, mas é um tema que eu gosto muito de debater, também. Mas prometo ser tão breve quanto possível.


Internacionalmente, não dá para negar que os EUA foram o foco principal. Vindos de uma época de estabilidade com Bill Clinton e ainda absorvendo a primeira década sem Muro de Berlim e sem União Soviética (ou seja, sem guerra fria), a ascensão (duvidosa) do pífio George W. Bush e o ataque às torres gêmeas foram um cartão de visita do clima conservador que foi imposto à America e que alavancou guerras com intenções econômicas travestidas de políticas. Aliás, como a maioria das guerras. E a conseqüência disso foi, como de fato Ricardo comentou em seu blog, o início do fenômeno Barack Obama. Confesso: sou fã do Obama. Li um livro sobre ele e já participei de debates no Orkut na época eleitoral. Ele é a “audácia da esperança”, como o livro que ele mesmo escreveu diz. Mas concordo quando dizem que ele é a pessoa certa na hora errada. A missão de curar as cicatrizes de uma administração imbecil como a de Bush e da crise de 2008 são missões inglórias, que talvez nem mesmo seu brilho pessoal possa ajudar a reverter.

Por falar em esperança, foi ela que venceu o medo e alavancou Lula à presidência, à despeito da desconfiança de muitos, além da Regina Duarte. E entramos, assim, no cenário nacional. Diferente do Obama, a vida do nosso presidente foi facilitada por uma meritória estabilidade alcançada por uma administração técnica do seu antecessor, FHC. Mas era preciso mais. Um país com as diferenças e desigualdades como o nosso precisava de mais. Se Lula era a única ou a melhor opção, não sei, mas foi ele que de fato conduziu o país, ajudado ou não por condições favoráveis, a um período de desenvolvimento, com mudanças de paradigmas importantes. De ruim, o fato da nossa política estar cada vez mais desmoralizada nos seus mais diversos escalões, mas que por favor ninguém venha culpar a democracia por isso... políticos são reflexo da sociedade que os elege.

Por fim, tenho certeza que o Ricardo gostaria que eu fizesse um contraponto ao que ele chamou de “América Vermelha”, ou seja, o aumento de presidentes de esquerda na América Latina. Eu diria que foi uma conseqüência natural do esgotamento do modelo conservador imposto nos anos 90 na região, e que quase quebrou países como Peru e Argentina. Mas esse cenário atual naturalmente tende a se esgotar também nos países onde não houver competência administrativa e sim populismos exacerbados. Cada um escolhe o quer ser: Chávez ou Lula, Evo ou Bachelet.

5 de janeiro de 2010

O que ficou da década - Parte 1


Meu amigo Ricardo, que possui o blog Artigolândia, sugeriu que eu contribuísse com as minhas percepções a respeito da década que está encerrando (tecnicamente os anos 2000 encerram-se somente no final de 2010 e não em 2009, mas enfim...), em um contraponto às visões dele.


Ele pediu isso justamente na manhã onde eu estava debruçado escrevendo que não gosto muito de retrospectivas enfadonhas ou melancólicas de réveillon. Tampouco acho que consiga ser intelectualmente categórico interpretando a realidade à minha volta, embora, vocês que me lêem sabem, volta e meia eu também caia nessa armadilha. Por isso, ou apesar disso, vou escrever em cima das minhas idiossincrasias pessoais, daquilo que eu vi e senti nessa última década, sem ter a pretensão de uma imparcialidade descritiva.


Vivi a infância na década de 80, a adolescência nos 90 para me firmar como o que sou hoje nesses últimos 10 anos do novo século. Cada década teve suas características, coisas boas e ruins na política, economia, música, artes. Por isso reluto muito quando ouço expressões como “década perdida” ou “década de ouro”. Em que sentido? Em qual âmbito, nacional ou internacional?


Assim, inicio essa série que terá 3 ou 4 partes (vamos ver até onde vai), onde, cada qual em seu blog, Ricardo e eu discutiremos Cultura/Comportamento, Política/economia e o que mais vocês quiserem. Sintam-se convidados a participar.