8 de setembro de 2009

Falando de Deus e religião - parte I


Se você faz parte daqueles que pensam que religião é um assunto muito controverso para ser discutido, ou se sente contrariado quando determinados dogmas de fé são questionados, não siga adiante com essa leitura. Esse texto tem a pretensão de ser um ensaio sobre muitas das coisas que eu penso a respeito do tema, a partir da minha experiência como cristão, cientista e ávido leitor de trabalhos e textos sobre teologia, hermenêutica bíblica, filosofia e filosofia da ciência.

Primeiramente, para quem não sabe sou um cristão formado na Igreja Católica. O que não significa que concorde com todos os dogmas do catolicismo. Também já tive oportunidade de ler ou ter contato com cultos evangélicos, principalmente batistas, luteranos, e alguns neo-pentecostais. O que não significa, também, que concorde com todas as interpretações evangélicas sobre fé. Já li sobre espiritismo, mas sou fortemente contrário à abordagem científica objetiva (?) proposta por eles para explicar fenômenos sobrenaturais subjetivos. Já li sobre criacionismo e sobre evolucionismo, e ainda mais, até sobre evolucionismo criacionista. Trabalho com pesquisa científica e aplicada. Sobre ciência, aliás, sou um pesquisador que não vê problemas nessa dualidade fé X ciência.

Uma das coisas que mais concordo quando vejo pregações é a máxima de que devemos procurar “menos religião, e mais Deus”. Concordo plenamente, ainda que a maior parte dos cristãos utilize isso de forma sofística para fazer crer que eles não têm preocupações com a religião em si, quando têm, e muito. Independente disso, é uma das frases que deveriam estar na mente de todo cristão. O que os homens definem como preceitos, dogmas, regras de conduta, balizadas ou não por interpretações (suficientes ou insuficientes) dos textos bíblicos, são resultados de uma hermenêutica particular de um grupo definido de pessoas e/ou teólogos. São padrões que determinados grupos assumem como condição verdadeira para viver segundo o que acham mais conveniente teologicamente, mas não têm, necessariamente, similaridade com o que seja, de fato, a vontade de Deus. Qual o homem que detém o conhecimento inequívoco do que seja a vontade de Deus? Se você o conhece, me apresente. A vontade de Deus é a meu ver, é bem mais simples do que a maioria dos homens pode supor. Mas não está claramente expressa em lugar algum, pelo menos de forma irrefutável.

Karl Popper faz uma afirmação mais voltada para a filosofia da ciência, mas que se presta aqui nesta discussão. Popper argumentou que uma teoria será sempre conjectural e provisória. Em outras palavras, sempre podemos provar a partir de dados ou experiências que é uma teoria falsa, mas nunca afirmar categoricamente o que é uma verdade irrefutável.

No que uma beata católica, um pastor metodista ou um fiel pentecostal pode me corrigir, com idêntica fala: “Seu erro é não perceber que só há uma única forma de servir a Jesus Cristo”. No que eu responderia, desculpem-me, mas vocês estão sendo usados para balizar conceitos que servem não às pretensões de Deus, mas às dos homens.

Rubem Alves, escritor de formação presbiteriana, fala algo do qual concordo integralmente: “Nossas idéias sobre Deus não fazem a mínima diferença para Ele. Fazem, sim, diferença para nós”. Aliás, os textos mais inteligentes sobre teologia que pude ler ultimamente em geral são de presbiterianos ou de pessoas que tiveram, em algum momento, formação presbiteriana. Mas também não significa que concordo com os preceitos dessa denominação.

Brian McLaren, um controverso pastor americano, vai mais além: "As nossas interpretações revelam menos acerca de Deus ou da Bíblia do que sobre nós mesmos. Elas mostram o que queremos defender, o que nós queremos atacar, o que queremos ignorar, o que não estamos dispostos a questionar ..."

Eu continuo vivenciando minha fé, principalmente - mas não somente - freqüentando a igreja católica por ver, nas pessoas que a freqüentam conscientemente, e em muitos dos bons pregadores que existem nela, que ali é expresso com maior entendimento o maior legado deixado por Jesus Cristo: a vivência do amor em Deus. Mas isso não me deixa míope para as coisas erradas nos dogmas que nela existem, tampouco me faz ignorar o que há de bom na hermenêutica bíblica de outras denominações.

"Eu acredito que as pessoas não são salvas por uma verdade objetiva, mas por Jesus. A sua fé não está em seus conhecimentos, mas em Deus." - Brian McLaren, novamente. Ou seja, se você leu toda a bíblia isso não faz de você necessariamente mais preparado para entender a “vontade de Deus”. Até porque a realidade mostra que muita gente que sabe a bíblia de cor não sabe interpretá-la de fato. Independente de credos.

3 comentários:

Maria Cecília disse...

Olá jovem Daniel!
Li atentamente o seu post. Devo dizer que concordo plenamente com tudo o que que diz, e conseguiu usar as palavras certas e um discurso muito claro. Essa é minha visão de Deus e da fé .
Um beijo.

Fernando Mynarski disse...

tenho um livro muito bom sobre o assunto: A Cabana do William Young. Acho que tu apreciaría-lo.

Daniel disse...

Eu ganhei esse livro de presente! Quero lê-lo em breve.