16 de fevereiro de 2009

Discurso Indutivista

Originalmente publicado em 10/12/2008
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Hoje decidi escrever um texto mais “nerd” (:PPP), mas acho interessante para demonstrar como encaro determinadas coisas que vejo por aí... Quando estudamos e trabalhamos na pós-graduação, aprendemos a ter atenção com o modo como organizamos nossas idéias no papel ou em uma apresentação. Fazemos isso, pois muitas vezes idéias e pensamentos corretos, colocados de maneira errada, têm seu sentido distorcido. Às vezes isso é feito, incrivelmente, de maneira deliberada. É o que chamamos de discurso indutivista, ou indutivismo ingênuo. Não sei se vou ser bom para explicar, mas funciona mais ou menos assim: Alguém pega duas afirmações verdadeiras ou cheias de conteúdo para generalizar, insinuar coisas ou gerar uma terceira informação errada, mas que parece verdadeira. Por exemplo:

- Mulheres usam cabelo comprido;
- Isabel é mulher;
- Logo, Isabel tem cabelo comprido.

- O pai quer a filha no caminho correto.
- Eu ando no caminho correto.
- Logo, o pai quer a filha andando comigo.

Mesmo considerando que primeiras afirmações de cada exemplo sejam verdadeiras e irrefutáveis, a terceira pode não sê-la, apesar da aparente lógica. Isabel pode não ter cabelos compridos; a filha pode andar no caminho correto e ainda assim não necessitar de uma companhia específica.
Assim, muitas pessoas acabam usando este recurso para, a partir de preceitos verdadeiros, sejam eles de senso comum, religiosos ou científicos, gerar outros conceitos implícitos que lhes favoreçam especificamente, sem que os mesmos tenham relação direta com a realidade das coisas.

Outro aspecto que como acadêmicos aprendemos a desconstituir é a distorção do que estudiosos um dia chamaram de “discurso competente”. Conceitualmente, “O discurso competente é um discurso instituído. É aquele no qual a linguagem sofre uma restrição que poderia ser assim resumida: ‘não é qualquer um que pode dizer a qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer circunstância’”. Esse tipo de discurso acaba se confundindo com uma linguagem “autorizada”, no sentido do interlocutor se considerar previamente reconhecido como o indivíduo com maior capacidade para emitir conceitos e opiniões, devidos justamente a seu suposto maior “discernimento”. Em outras palavras, é uma maneira bonita de esconder uma convicção preconceituosa do tipo “Desculpe, mas eu tenho mais entendimento para falar sobre isso do que você”. Lamentável.

2 comentários:

Thamara disse...

Vey..Adorei teu blog...=) Ah,falando da postagem,eu axei bem colocada suas idéias.Embora eu ja tenha cansado de estudar isso kkkk...vlw..;*

Isa Diniz disse...

Muito bom esse texto..adorei seu blog.Vou te seguir ;D