30 de setembro de 2009

Visões de Mundo

Em um espaço de menos de uma semana tive oportunidade de ter uma mesma conversa, em momentos distintos, com diferentes amigos sobre como vemos determinadas coisas que acontecem na nossa sociedade. Alguns diriam que conversamos sobre política e economia, mas eu prefiro dizer que compartilhamos nossas visões de mundo. Sim, pois, a despeito das visões apaixonadas que temos nesses momentos em que se discutem temas controversos, estamos pondo à mostra a maneira com que encaramos a realidade que nos cerca e a perspectiva de mundo que queremos ou sonhamos.

A história já se encarregou de sepultar os devaneios coletivistas que comunistas e fascistas imaginavam ser a utopia de um mundo sem diferenças. Tais devaneios demonstraram-se ingênuos ou então propícios apenas para que atrocidades incríveis fossem cometidas em nome de uma suposta igualdade entre os homens. O ser humano tem um desejo e uma ambição natural de ser diferente de outro. E trocar Liberdade por Igualdade demonstrou-se tão perigoso quanto trocar Liberdade por Ordem, como as ditaduras militares impuseram na América Latina no passado. Cuba está aí para provar isso.

Mas isso não quer dizer que o que restou após a queda do muro de Berlin seja bom ou suficiente. Aliás, bem pelo contrário.

Você estar inserido em um contexto não lhe obriga a, necessariamente, concordar com ele. Vivemos em um mundo capitalista, em uma sociedade de consumo, da valorização do “eu” em detrimento do “nós”. Mas sou terminantemente contra o pensamento de que “o mundo é assim, temos que nos adaptar”. Isso faria de nós um rebanho de bois sem consciência crítica. Eu tenho minhas aspirações financeiras, mas não estou disposto a pagar qualquer preço por isso. Minha felicidade está antes de tudo no que sou, e não no que possuo. Vez por outra tenho vários ímpetos consumistas, mas jamais pagarei R$ 400,00 por um tênis só pelo status social que ele proporciona ou por que uma bem treinada equipe de marketing fez as pessoas acreditarem que ele é muito mais confortável que outro.

Creio que nenhuma pessoa em sã consciência e minimamente preparada seja, em tese, contrário à livre iniciativa. Mas se a ambição humana é uma condição normal nossa, se o homem é cada vez mais individualista, se o homem cada vez mais é o lobo do homem, é preciso que a sociedade formal, na figura dos seus administradores e governantes, crie algum mecanismo que impeça que essa natural vocação dos homens pela desigualdade maximize as diferenças sociais tão gritantes entre as diversas camadas sociais. Diferenças essas que são responsáveis por grande parte das mazelas que vivemos hoje em dia.

Isso pode ser mal compreendido pelas pessoas, principalmente por aquelas que não corroboram do mesmo pensamento e, por serem justamente contrárias a isso, criam estereótipos e pensamentos maniqueístas a respeito do assunto. Porém mais do que certo e errado nessa discussão, há claramente uma visão do mundo que defendemos, como comentei no início. E, no mundo que eu defendo, o “eu” e o “nós” tem de, necessariamente, caminhar juntos.

E você, que visão de mundo defende?

5 comentários:

Maria Cecília disse...

Mais uma vez estou a concordar contigo plenamente. tenho pena de não ter sido eu a dizer... jaja!
Repito aquilo que já disse uma vez: é bom ver que existem jovens que pensam, e pensam bem. Não é puxa saco.
isto me dá esperança e me faz acreditar que um dia o mundo vai mudar.Ou não?
Beijo.

Amanda disse...

Diria, plagiando Amartya Sen, desenvolvimento é liberdade. Só podemos ser livres se temos oportunidades para nos desenvolver, seja em aspectos financeiros, espirituais ou intelectuais. E não há desenvolvimento individual que esteja dissociado do coletivo. Então não há liberdade em uma sociedade desigual. Como podemos ser livres se não temos opções?

Daniel disse...

Eu não conheço a fundo a trabalho do Amartya, mas adoro uma frase dele:

"Vivemos um mundo de opulência sem precedentes, mas também de privação e opressão extraordinárias. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão"

Amanda disse...

Daniel, vou acompanhar o debate interblogs, mas depois post o link do outro debatedor. abs

Gabriel disse...

Daniel: esse não é um comentário sobre esse texto em particular, mas sim sobre o conjunto do teu blog. Fico muito feliz, e a palavra é essa, pela oportunidade de ler os teus textos que, na minha opinião, são da mais alta qualidade! Abração!